Todos sabemos que a xícara de expresso que chega até nos na mesa da cafeteria tem muita história para contar, porque do momento que a semente foi lançada ao solo até o momento da extração pelo barista o café passou por uma complexa série de alterações e preparo.Trabalhando como uma engrenagem, o fruto é tirado do pé e segue um caminho com muitos estágios até chegar à xícara de alguém. A última etapa desta engrenagem é o barista, e não por ser a ultima não é menos importante, muito pelo contrário o expresso deve ser tão levado a sério que se extraído de forma incorreta ou por alguém que não entende do processo, toda uma cadeia fica comprometida e pode até se perder. Aqui no Brasil, a função ganhou esse nome há pouco mais de dez anos. Mas pelo que ele é responsável? Essencialmente, esse profissional prepara o café e as bebidas que tenham o grão como base. Mas, com o crescimento do mercado de café especial e de qualidade, ganhou novo status no mundo da gastronomia e, hoje, é conhecedor e atuante em outros estágios da cadeia cafeeira.
Uma vez ao ano campeonatos mundiais, com diferentes categorias, que colocam em destaque todas as habilidades dos baristas acontece num lugar diferente do país. Realizados dentro de feiras de negócios, os campeonatos mostram soluções profissionais que ainda nem imaginamos ver em cafeterias pelo mundo.
E aqui reproduzimos na íntegra algumas novidades selecionadas para os leitores da revista Espresso, e o EspressoDiario traz para refrescar a memória de seus leitores. Acompanhe:
O café natural mais presente
Durante muito tempo o café natural foi visto como vilão. Como ele é um fruto mais sensível à fermentação em terreiro, pois seca com a casca, acabava sendo descartado nas apresentações. Hoje, com novas técnicas nas fazendas para o processamento do fruto, o natural apresenta qualidades de doçura que são superiores aos cafés lavados e cerejas descascados. A barista japonesa Miki Suzuki optou por um blend de café natural e conquistou o quarto lugar.O que pode mudar para o consumidor? Cafés naturais, quando melhoram a qualidade, aumentam a possibilidade de novos sabores nas xícaras. No Brasil, este método de processar café é o mais usado pelos produtores que, a cada dia, evoluem as técnicas no campo para obter ótimos resultados.
Métodos de preparo de café
Na competição mundial, o preparo do espresso é obrigatório como ingrediente-base para os drinques de criação. Porém, os baristas estão usando outros métodos de preparo para acrescentar a suas bebidas. Utensílios criados mais recentemente para o café filtrado, como a Hario V60 e a Clever, foram amplamente aproveitados para infusões de folhas, cascas do café e, claro, o próprio café moído. Esses processos são práticos e, com um produto de qualidade, resultam em bebidas limpas.O que pode mudar para o consumidor? A versatilidade de tipos de preparo proporciona experiências sensoriais diversas e abre possibilidades para se conhecer a complexidade do café.
Café não é só um grão
O café é um fruto complexo, com casca, mucilagem e grão. E por que não usar todas as partes dele? Foi com esse princípio que trabalhou o salvadorenho Alejandro Mendez, em 2011, quando ganhou o mundial. Este ano, novamente a desconstrução do grão foi utilizada. Desde a colheita, o guatemalteco Raul Rodas se envolveu nos processos de beneficiamento, secagem e depois na torra. Ele trouxe cascas de café, o grão com a mucilagem e também o fruto inteiro. Fez infusões usando a Clever e lançou mão de torras claríssimas para testar o pó de café ainda “cru”. Provou que o café não é só um grão.O que pode mudar para o consumidor? Não é fácil inserir o fruto fresco para clientes em cafeterias pelo Brasil. Mas, por sermos um país produtor, algumas dessasexperiências podem ser testadas em bebidas com edições limitadas na época da colheita.
QUE TIPOS DE CAMPEONATOS EXISTEM?
Campeonatos tradicionais de preparo de café, como o World Barista Championship (o mundial da categoria), o World Cup Tasters Championship (de prova de café), o World Brewers Cup (de preparo de café filtrado), o Cezve-Ibrik Championship (de café turco) e o novo Coffee Roasting Challenge (de torra), além do World Coffee in Good Spirits (de café com bebida alcoólica) e World Latte Art (de desenho com leite no café).
Baristas na torra
A torra é uma das etapas mais importantes da cadeia do café. Os baristas sabem disso e têm cada vez mais controle deste processo. Acompanhar de perto os grãos verdes se transformarem em grãos torrados demanda muito treino, testes e provas dos cafés. Segundos fazem diferença, e a escolha dos melhores grãos dá um resultado final muito distinto. E, por isso, crescem os estabelecimentos que buscam torrefadores compactos para fazer os próprios perfis de torra.O que pode mudar para o consumidor? Cafés torrados nas cafeterias são mais frescos e podem resultar em microlotes especiais, depois de o barista fazer muitos testes com o torrador.
Cafés de origem única
Os blends com diferentes grãos de origens diversas eram amplamente usados nas apresentações e nas cafeterias pelo mundo. Hoje, a valorização também passou a ser para os grãos de origem única, que têm nas características principais o fato de serem produzidos em uma fazenda ou região e não serem misturados a outros grãos. O uso de cafés como base para blends permanece, mas notas particulares de sabor estão mais valorizadas.O que pode mudar para o consumidor? O café brasileiro era amplamente usado como base para blends no mundo todo e não conhecíamos as características particulares de cada propriedade. Hoje é possível provar nas cafeterias grãos especiais em microlotes de fazendas nacionais.
O chá como referência
Assim como o café, o chá é preparado por meio de infusões. Esta similaridade é, muitas vezes, usada pelos baristas durante as apresentações para fazer relação entre os produtos. Neste ano, o mexicano Fabrizio Ramírez Sención trouxe utensílios de chá para servir seu café e também ousou ao preparar uma infusão com folhas de café e alguns sabores básicos do fruto em seu drinque. A técnica usada remetia ao preparo de chá oriental.O que pode mudar para o consumidor? O chá gourmet já entrou com grande força no Brasil e a integração com o café só faz crescer ainda mais este mercado de bebidas ligadas ao encontro e ao bem-estar.
O nível está mais alto
Europeus sempre dominaram as finais das competições nos últimos dez anos. Mas, atualmente, americanos do Norte e do Sul e orientais vêm também se destacando nas apresentações. O mundo do café ficou globalizado e novidades chegam a todas as partes do mundo de forma muito rápida, através de vídeos, treinamentos e intercâmbios entre profissionais. Assim, o nível dos baristas que competem é similar e leva ao acirramento a cada ano.O que pode mudar para o consumidor? Equipamentos, técnicas e métodos, quando chegam quase simultaneamente aos países consumidores de café, elevam o nível de conhecimento dos apreciadores e aumentam as possibilidades de mais pessoas gostarem de ter uma experiência nova com a bebida.
O filtrado é cool
Baristas que participam do mundial estão migrando para o Brewers Cup, o campeonato de preparo de café filtrado. O utensílio escolhido para fazer o café pode ser aeropress, french press, Hario V60, Clever, entre outros que mostrem a habilidade do barista na escolha do grão, da torra, da moagem e do tempo de infusão. Estes preparos estão cada vez mais presentes em cafeterias pelo mundo.O que pode mudar para o consumidor? Um mesmo café pode se modificar muito ao ser preparado em métodos distintos. A oportunidade de identificar estas diferenças e comparar as notas da bebida pode ser mais sentida pelos apreciadores de café por todo o Brasil.
Contato direto com o produtor
O décimo item e o mais importante. A relação entre cafeicultor e barista. Antes inexistente, hoje muito estreita. Baristas de todas as partes do mundo querem conhecer o rosto de quem colheu seu café. Querem saber se eles utilizam boas práticas sociais e ambientais, quais processamentos usam nas fazendas e até viajar para conhecer as propriedades. Esta intimidade fez com que as trocas entre as pontas fosse muito enriquecedora para o crescimento de toda a cadeia de apaixonados pelo café.O que pode mudar para o consumidor? Uma revolução no mercado de café vem buscando um futuro sustentável para o produto. Comércio justo que beneficie toda uma cadeia passa desde a fazenda até chegar ao apreciador, que é quem mais ganha com toda essa integração que vem ocorrendo.